“Necessitamos de um choque de ordem”, diz comandante do 3º BPM sobre a criminalidade

por admin última modificação 08/03/2018 20h47
Tenente coronel Mário Renato Erzinger ocupou a tribuna da Câmara para apresentar diagnóstico e as ações desenvolvidas pela corporação

Com 32 anos de serviços prestados à Polícia Militar de Santa Catarina, tenente coronel Mário Renato Erzinger acredita que o resgate dos valores religiosos e de família pode ser um importante aliado das instituições na prevenção à criminalidade. “Necessitamos de um choque de ordem”, disse.

Segundo ele, é humanamente impossível os organismos policiais trabalharem a prevenção junto à sociedade se o elemento principal, que é família, não estiver exercendo a parte que lhe compete. “Infelizmente a vida humana está perdendo o seu valor”, lamentou.

Prestes a entrar para a reserva remunerada da PM, o comandante do 3º Batalhão de Polícia Militar (BPM) ocupou a tribuna da Câmara, na sessão ordinária de segunda-feira, 10. Na ocasião, apresentou diagnóstico da segurança pública e as ações desenvolvidas pela corporação em Canoinhas e região.

A presença do comandante havia sido solicitada por meio de requerimento de autoria do vereador Osmar Oleskovicz (PSD).

Inicialmente, citou a relação harmoniosa que as Polícias Militar e Civil vem mantendo desde a chegada do delegado regional Wagner Valdivino Meirelles ao município. “O estreitamento entre as instituições é vital para que a qualidade da segurança pública seja garantida”, afirmou ao citar operações conjuntas já realizadas e bem sucedidas.

Esclareceu o papel de cada uma das Polícias no trabalho de prevenção, combate ao crime e na garantia da ordem pública. “A militar faz o policiamento ostensivo, a parte administrativa, enquanto a civil é a polícia investigativa, judiciária”, comentou.

Para o comandante, a sensação de impunidade, as drogas e a negligência no trânsito são fatores que contribuem para o aumento da criminalidade e da violência em todo país. “Nunca antes, as Polícias prenderam tantas pessoas como estão fazendo agora. E esse círculo vicioso de prende e solta é contínuo. Sendo que a maioria dos crimes é feito por reincidentes”, falou.

Ele também ligou muitas dessas demandas ao fato dos reeducandos, após cumprirem suas penas, encontrarem dificuldades de se resocializar. “A aceitação dessas pessoas é muito difícil”, acrescentou.

Disse ainda que não cabe apenas às Polícias o papel de pacificar a sociedade. Conforme o comandante, esta função deveria ser dividida com a igreja (ao permitir o controle de natalidade), com as famílias estruturadas (atenção, amor e carinho aos filhos) e aos governos (oferecendo educação de qualidade e preparando os jovens para o mercado de trabalho). “É uma questão social”, completou.

Diagnóstico

O 3º BPM é formado por duas subunidades. A 1ª Companhia de Porto União atende três municípios, uma população de 46.780 habitantes, onde atuam 81 policiais militares e a média de habitantes por PM é de 577,53.

Já a 2ª Companhia de Canoinhas engloba quatro municípios, 84.377 pessoas, onde atuam 142 policiais militares, totalizando uma média de 594,20 de habitantes por PM.

Apesar do percentual registrado em Canoinhas ser melhor de que em cidades do mesmo porte, Erzinger informou que nos últimos 10 anos a corporação local perdeu mais de 70% do seu efetivo. “E o problema não é só da Polícia Militar, é de Santa Catarina, mesmo nós contando com um batalhão aqui na cidade”, ressaltou.

O comandante ainda vê com preocupação a aposentadoria de policiais formados nas turmas de 1983 a 1986. “Vamos ter ainda um decréscimo maior de efetivo”, reclamou ao mesmo tempo em que reconheceu o esforço do Governo do Estado que, nos últimos anos, incluiu mais de 4,5 mil novos policiais militares nas corporações. “Mas ainda não fecha as vagas das pessoas que estão saindo”, enfatizou.

Resultados

De acordo com informações repassadas pelo comandante, o 3º BPM atendeu a 7.477 ocorrências de 1º de janeiro até o dia 03 de novembro. “É uma média de 26 atendimentos ao dia, sendo que sextas-feiras e sábados podem chegar até o pico de 50”, falou. Foram presos 862 criminosos (23 por furtos em estabelecimentos comerciais) em 772 operações.

Nesse período foram apreendidas 360 pedras de crack, recuperados 20 veículos e outros 37 objetos de furtos a estabelecimentos comerciais. As viaturas percorreram 529.937 quilômetros em rondas policiais.

A PM ainda atendeu 921 ocorrências de apoio à comunidade, realizou guarnições em 96 eventos do município, desenvolveu atividades do Programa de Educacional de Resistência às Drogas (Proerd) junto a 452 crianças. 67 jovens foram atendidos pelo projeto da Banda Novos Talentos e 80 crianças pelo projeto Moleque Bom de Bola, em parceria com a Fundação Municipal de Esportes e Lazer (FMEL).

Erzinger ainda fez menção às modalidades de policiamento ostensivo realizadas com automóveis, motocicletas, a pé no centro e bairros, tático (Pelotão de Policiamento Tático), em eventos, em áreas de apoio, na guarda da Unidade Prisional Avançada (UPA), Fórum da Comarca e, esporadicamente, nas barreiras da Cidasc e velada.  “A PM não faz investigações. Levantamos os locais potencias de crime, produzimos os relatórios e encaminhamos para a Polícia judiciária para que se possa efetivar a averiguação”, salientou.

Números

O comando do 3º BPM ainda informou o número de pessoas conduzidas entre 2011 a 03 de novembro deste ano. O número de flagrantes só em 214 chegou 697, maior que os registrados nos anos anteriores que foram de 416, 505 e 637, respectivamente. No tocante a pessoas recolhidas, também houve aumento nos números: 579, 722, 865 e 862 respectivamente.

Em 2014 a PM já fez a apreensão de 33 armas, oito a menos de que no ano anterior. Junto aos criminosos apreendeu drogas como maconha, pedras de crack, cocaína, pés de maconha, comprimidos de extasy e pontos de LSD.

Repassou estatísticas referentes aos últimos quatro anos no que tange os furtos do tipo consumado, tentado, sobre estabelecimentos comerciais, residenciais e veículos. O mesmo ocorreu para os roubos do tipo tentado, a residência, a pessoa e em estabelecimentos comerciais.

Também foram comentados os principais crimes atendidos pela PM e dados sobre os acidentes de trânsito em Canoinhas que, segundo o comandante, conta com mais de 30 mil veículos registrados. Ainda com referência ao trânsito, o comandante afirmou que só este ano foram realizadas 4.479 autuações.

Entre as operações desenvolvidas este ano, um total de 344 diz respeito àquelas consideradas as de presença (fiscalização), 278 de comando de trânsito (blitz), 37 de varredura a bares e locais suspeitos e 113 em eventos, festas, feiras e atividades esportivas.

Méritos

Ao elencar uma série de crimes elucidados, inclusive em conjunto com a Polícia Civil local e Militar de outros municípios da região, o comandante fez questão de reconhecer publicamente a atuação comprometida de seus subordinados. “Os nossos policiais são incansáveis nesse combate, a minha equipe de trabalho é composta de excelentes profissionais”, afirmou.

Críticas e sugestões

Mesmo sabendo das dificuldades encontradas pelos gestores, Erzinger disse não se conformar com algumas situações vivenciadas no município, como, por exemplo, o esgoto que corre a céu aberto no local conhecido por Morro da Fumaça.

Fez críticas aos conjuntos habitacionais que estão sendo construídos nas proximidades da Unidade Prisional Avançada (UPA), onde contemplará aproximadamente 400 famílias. “Numa visão minha, estão instalando mais um nicho de violência. Essas casas deveriam ser fracionadas dentro do município, pois são muitas pessoas que ficarão concentradas num só local”, justificou.

Acredita ainda que o município, por sua importância no Planalto Norte catarinense, já deveria ter se tornado sede de região da PM. “Temos que voltar a ter representatividade. Hoje dependemos de Lages e as coisas não acontecem”, argumentou ao pedir apoio dos vereadores junto aos seus representantes na esfera estadual de governo.

Também solicitou a intervenção da Câmara no sentido de trazer para Canoinhas um Colégio da Polícia Militar que, segundo ele, tem os melhores índices educacionais em nível de Estado. “Tem um princípio básico que o diferencia dos demais que é a disciplina”, informou.

Manifestações

Para o vereador Osmar Oleskovicz (PSD), o debate serviu para que o Poder Legislativo e a própria comunidade pudessem ter conhecimento daquilo que vem sendo feito em termos de garantia da segurança pública. “Resolvemos discutir o assunto com quem entende e saio bem informado”, observou.

Paulo Glinski (PSD) salientou a importância do trabalho realizado da PM e disse estar surpreso com a informação de que a cada hora uma ocorrência era registrada em Canoinhas. “É um volume grande levando-se em conta o tamanho do município e considerando que as ocorrências não estão centralizadas, e sim espalhadas por diversos locais”, falou.

Vereador Renato Pike (PR) afirmou que a Câmara sempre será parceira do 3º BPM na busca de mais efetivo. “Existe essa dificuldade em trazer novos policiais. Mas vale ressaltar que se ainda temos um bom número deles aqui no batalhão, é graças ao empenho e esforço do seu comando”, elogiou.

Cris Arrabar (PT) disse concordar com a afirmação do comandante do 3º BPM de que a base familiar e o resgate dos valores religiosos podem ser ferramentas fundamentais na prevenção ao crime. “A gente fica até horrorizada com o rumo que a nossa juventude está tomando em algumas situações”, concluiu.

Membro do Conselho Comunitário de Segurança do distrito do Campo D’Água Verde (Consecamp), vereador Wilmar Sudoski (PSD) referenciou as estatísticas apresentadas durante a explanação feita pelo comandante. “Esses números podem até parecer assustadores. Mas para quem conhece o sistema, até por acompanhar de perto a atuação dos conselhos, fica evidente o quanto a PM vem trabalhando”, considerou.

Na opinião do presidente da Câmara, vereador João Grein (PT), existe na sociedade um sentimento de impunidade, principalmente, àqueles com melhores condições financeiras. “O crime é, na maioria das vezes, relacionado aos pobres. Mas em diversas situações os ricos usam os pobres para cometê-los e ficam impunes”, finalizou.

 

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